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Em meu texto anterior “As mulheres precisam estar nuas para entrar no museu” contei a história de Berthe Morisot (1841-1895), artista plástica do calibre de qualquer impressionista da sua época, mas que não recebeu o mesmo reconhecimento dos seus pares masculinos.
Apesar do relato ser do século XIX o cenário ainda não mudou, segundo informações do Museu de Arte de São Paulo (MASP) no acervo daquela instituição apenas 6% dos artistas são mulheres e 60% dos nus são femininos, revelando assim qual o papel reservado para as
mulheres no mundo das artes.
Então, aproveitando que para entrar no museu as mulheres precisam estar nuas, vamos falar de um nu bem polêmico.
Olympia foi pintada por Édouard Manet (1832-1883), o quadro é uma obra realista que representa uma mulher nua - com finos acessórios como brincos, colar, pulseira e sapatos de salto - deitada em uma cama bem confortável, recebendo flores de um admirador, que quiçá
acabou de sair daquele leito.
Quando Manet apresentou o quadro no salão de 1865, o trabalho suscitou uma comoção social com críticas violentas à obra e ao pintor. Porém, o que causou tamanho descontentamento ao público?
É sabido que o nu feminino permeia as obras de arte desde a antiguidade. Assim, não foi a nudez que chocou a sociedade.
O motivo das críticas é o fato da personagem não ter sido representada de forma idealizada como uma divindade, trata-se de um retrato de uma mulher real do seu tempo e que muitos expectadores conheciam, é isso que chocou a sociedade moralista e hipócrita da época.
Alie-se a isso que Olympia – Victorine Meurent – olha direto para o expectador, provocativa e audaciosa, mais um motivo que causou a fúria dos pudicos.
Comparando a obra com a Vênus de Urbino de Ticiano é possível ver que ambas estão nuas e na mesma posição (deitadas em uma cama). Contudo, a primeira é retratada de forma idealizada como determina os cânones do renascimento, trata-se da imagem de uma deusa e,
portanto, sem pecado. Diferente de Olympia, uma mulher atrevida.
Mais atrevido que Olympia foi Édouard Manet, ele foi um dos líderes da vanguarda francesa na segunda metade do século XIX, é considerado o primeiro dos grandes modernistas e inspirou os impressionistas que o seguiram.
Apesar de ser fonte de inspiração, Manet não pode ser considerado impressionista, tendo em vista sua ênfase nos elementos formais da pintura, o uso contínuo do preto em sua paleta, sua indiferença em captar os efeitos transitórios da luz (premissa principal do impressionismo) e sua insistência em ser aceito nos salões formais de Paris. Tudo isso o diferencia do impressionismo e dos impressionistas.
Enfim, Olympia em 1907 foi incorporada no acervo do Museu do Louvre e atualmente repousa esplendida no Musée d’Orsay, comprovando que mulheres nuas entram nos museus.
Elisa Silva
Escritora, formada em História da Arte
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